Os Glockenwise formaram-se em Barcelos, onde a ideia de passar pela vida com anseio de fazer música – ou qualquer outra arte, para o efeito – era, ainda nos anos 2000, relativamente exótica. Forjados na energia inconformista do punk, sempre pontuados por uma melancolia característica que serviu de fio condutor até à identidade sonora presente, e que os tem vindo a demarcar de classificações mais evidentes.
Gótico Português é, se não um regresso, um olhar apreciativo. Há um Portugal a fervilhar na margem, abundante em manifestações culturais interessantes e bizarras, rico e diverso em tradições visuais e orais. Onírico, criativo e surpreendente. Há um Portugal esquecido na margem, sedento de representação mas obstinado, que se arregaça para ocupar de forma inventiva o vazio deixado pelas carências materiais, culturais e metafísicas. No seu repertório podemos ouvir temas sobre a identidade de quem está na meia-distância, dividido entre a margem e o centro, escritos para tempos de incerteza, que requerem ainda mais canções.
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